A MAÇÃ abre o apetite?
Esta é a primeira afirmativa que ouço quando comento sobre os benefícios da maçã, e pode ser também o que você está pensando agora sobre o assunto. Outros diriam ainda que ela não só abre o apetite como aumenta a fome, fato controverso quando estudos atuais apontam a maçã como auxiliar no processo de perda de peso.
De qualquer maneira, não foi assim que aconteceu no primeiro encontro do grupo terapia da maçã. Os participantes comeram uma unidade média da fruta, da marca gala, em silêncio, prestando atenção em cada mordida. Antes de iniciarem, eles receberam as informações sobre os benefícios da maçã, perceberam sua cor, forma e aroma. Quando deram a primeira mordida, inspiraram novamente o seu aroma e foram sendo conduzidos para estarem atentos no sabor, textura e suculência da fruta. Além disso, durante o exercício, o grupo era orientado a imaginar o trajeto da maçã no tubo digestivo e observar a sensação da fruta no estômago. Logo após a discussão sobre o exercício, todos foram solicitados novamente a comer outra maçã, agora da marca Fuji. A maioria protestou, pois estavam saciados com a primeira fruta. Um dos componentes do grupo não conseguiu comer a segunda fruta. O restante, após mais um breve período de diálogo, conseguiu comer, mais lentamente, deixando os restos para trás. Depois de uma hora, já perto do horário do almoço, a fome havia retornado e todos voltaram para casa preparados para o almoço.
Esse tema é relevante tendo em vista uma das últimas descobertas científicas do momento: a maçã auxilia na perda de peso. Em uma época onde a obesidade está aumentando em largas proporções e acarretando diversas complicações de saúde, como doenças cardíacas, colesterol alto e hipertensão, a maçã pode tornar-se uma grande aliada da ciência e principalmente da saúde da população.
A maçã é uma fruta muito nutritiva. Rica em vitaminas e minerais, com baixo valor calórico, possui ácido málico e pectina em sua composição. A pectina é uma fibra solúvel, que absorve água formando um gel no estômago, mecanismo importante para a saciedade. Seu volume é expandido, e esse efeito parece reduzir a ingestão de alimentos quando a fruta é consumida em torno de quinze minutos antes da refeição1. Durante o processo de absorção, o gel formado pela pectina e água tende a se ligar com o excesso de moléculas de glicose, gorduras e colesterol diminuindo a sua absorção. Dessa forma, além dos benefícios proporcionados pelos nutrientes da maçã, o resultado desse processo é a perda de peso em excesso e a redução dos níveis de colesterol e açúcar no sangue.
Outro mecanismo importante ocorre enquanto a fruta ainda se encontra no estômago: o aumento de volume dos alimentos resultante da ação da pectina faz com que o bolo alimentar demore mais tempo para ser digerido, de modo que os sinais de saciedade são enviados corretamente para o cérebro, prolongando o tempo em que o indivíduo não sente fome.
Os centros do apetite e da saciedade localizam-se em uma região do cérebro chamada hipotálamo, que recebe estímulo via hormônios e neurotransmissores presentes no trato digestivo sinalizando o estado do indivíduo: jejum ou alimentado. A insulina atua no estado alimentado, captando as moléculas de glicose e repondo as reservas energéticas da célula. O glucagon sinaliza que o organismo necessita de energia, recrutando todas as reservas energéticas do nosso corpo.
Pode ser que a maçã abra o apetite, dependendo do tempo e da forma da sua ingestão, mas dificilmente ela aumentará a fome. No final das contas, a balança poderá registrar alguns quilos a menos, não custa experimentar! E aqui fica o convite: repitam o exercício em casa, reservem um momento para comer a sua maçã em paz, e depois comentem aqui o quê aconteceu!
Bom apetite!
Carolina
Referências Bibliográficas:
1 OLIVEIRA, Maria Conceicão de; SICHIERI,Rosely; MOURA, Anibal Sanchez. Weight Loss Associated With a Daily Intake of Three Apples or Three Pears Among Overweight Women. From the Instituto de Medicina Social, State University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil.
GUYTON, Arthur, C. HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
